O calendário de concursos nacionais de salto está recomeçando e, em março, os finais de semanas de quem participa das provas do circuito já estarão tomados pelas competições. Aproveitando o intervalo entre temporadas, muitos cavaleiros brasileiros, de alto nível, amadores e da categoria de base, estiveram em clínicas, visitando concursos ou competindo no exterior.
O grande point mundial do hipismo é o Winter Equestrian Festival (WEF), em Wellington, na Flórida - Estados Unidos, que conta com programação intensa nos primeiros três meses do ano. Em 2023, passaram por lá os top brasileiros Zé Roberto Reynoso e Marcello Ciavaglia, além da amadora que venceu o Ranking Senior Top do ano passado, Luciana Lóssio, o campeão do circuito Amador Top, Marco Antônio Modesto Filho, entre outros.
O complexo equestre Wellington International, aonde ocorrem as 12 semanas de competições do WEF, conta com 400 baias permanentes e 18 pistas com piso de alta qualidade. Durante este período, o Festival recebe mais de 7.000 cavalos e milhares de cavaleiros de todos os 50 estados dos EUA e de 42 países, com disputas que somam mais de US$ 10 milhões de premiação em espécie. A região, localizada na Flórida, é conhecida por reunir grandes nomes do hipismo norte americano e alguns dos principais haras de criação e comércio do país.
Em 2023, o primeiro destaque do Brasil por lá foi com a Amadora Top de Brasília, Luciana Lóssio: no dia 29/01, foi ouro no GP2* Berbaums Stables, a 1.45m, com premiação total de 50 mil dólares.
Luciana monta a BH Lady Louise (Landario Jmen X ), de 12 anos. Égua que adquiriu visando as provas Amador 1.20m e o conjunto acabou chegando aos principais GPs 1.60m do Brasil e conquistando o Ranking Senior Top 2021, o GP do Indoor paulista em 2022, entre muitos outros títulos. Este é o segundo ano que o conjunto faz sua pré-temporada brasileira em Wellington: “Eu estou com a Lady Louise JMen há seis anos e a conheço muito bem. Ela é uma égua muito calma e muito inteligente. Ela tem muita qualidade, salto qualquer coisa que tiver pela frente. Realmente, temos uma parceria muito boa. Ela confia em mim e confio nela mais do que em qualquer outro cavalo", comentou Luciana em entrevista à CBH após a vitória.
Luciana Lossio e Lady Louise JMen com o cavaleiro Ronan Silveira (esquerda), Rodrigo Cunha (à direita) e Holger Wenz (meio) do Beerbaum stables; (img.: © Sportfot)
O Senior Top Marcello Ciavaglia, cavaleiro profissional natural do Rio de Janeiro, também aproveitou para explorar ao máximo a pré-temporada nos Estados Unidos e vai ficar por lá até abril. "Estou saltando 5 cavalos, às vezes 7. Trouxe 2 cavalos do Brasil e 1 égua veio da França. O objetivo dos animais que levei do Brasil é a melhoria técnica e torná-los mais competitivos. Os demais cavalos são de comércio", contou.
Além de Wellington, Ciavaglia também participou de concursos em Ocala e Sarasota. "Minha escolha foi baseada na qualidade das provas, estrutura do evento, conhecer a famosa estrutura do WEF e sempre abrir novas portas, conhecendo mais pessoas. Também busco agregar uma melhoria como cavaleiro e, principalmente, uma melhoria na parte atlética dos cavalos. Além disso, também observei que por aqui a alimentação para os animais é muito superior e a competitividade dentro da pista é mais alta", comentou o cavaleiro em conversa com a equipe 2clac.
Dentre os resultados obtidos até então, Ciavaglia conquistou o 3º lugar com Casilias From Second Life no Jarvis Ensurance Prix (img: arquivo pessoal)
O atual campeão sul-americano individual e por equipes, José Roberto Reynoso Filho, também passou pelas premiações de Wellington este ano. Montando cavalos do Haras Rosa Mystica, o cavaleiro obteve 4º lugar na série 1.40m com Mylord Mystic Rose. "Já tenho uma história de parcerias há muito tempo com o Haras Rosa Mystica. Em 2018, entre outros resultados também em Wellington, tivemos uma bela vitória com a Magnólia Mystic Rose", relembrou.
Sobre o Festival, Zé conta que sempre foi um lugar onde se sentiu muito bem: "Viajar para fora é sempre produtivo. Uma coisa é ver pela internet, outra é ver pessoalmente. É sempre muito bom aproveitar essas oportunidades".
José Roberto Reynoso conquistou a 4ª colocação com Zilouet Mystic Rose na série 1.40m no Wellington International Festival (img.: arquivo pessoal)
O campeão do Ranking CBH Amador Top 2022, Marco Modesto Filho, também marcou presença no pódio de Wellington, inclusive com a vitória em uma das provas da série Amateur 1.15m. Há mais de 10 anos, em quase todas as temporadas, o cavaleiro visita e assiste às competições do WEF. Em 2023, também competiu por lá, com a égua Mojito TW, cedida por Júlio Ledesma, sob a supervisão de Vitor Alves.
Além de curtir as férias com a família, Marco Modesto Filho competiu no WEF 2023 e levou ouro para casa (img.: arquivo pessoal)
"Wellington é um lugar fantástico: clima, nível de estrutura, piso, cavaleiros de alto nível técnico. E é um programa muito legal, porque vem minha esposa, meus filhos, todos são apaixonados por cavalos e conseguimos fazer um programa em família legal para todo mundo. Montei a Mojito, que tem um perfil parecido com a minha égua Zorrera.
O cavaleiro também visitou o centro equestre de Ocala, que afirma ser surpreendente: "é difícil descrever! Nunca vi nada parecido no hipismo, tanto do nível da pista, piso e cocheiras, como de hotel e infraestrutura". E vale a pena conferir o quarto que o cavaleiro ficou hospedado! Um sonho para todos os apaixonados por hipismo:
PARA ALÉM DA COMPETIÇÃO: A EXPERIÊNCIA WEF
Outra oportunidade de viver a pré-temporada na grandiosa estrutura do WEF e arredores, é participando de clínicas ou fazendo estágios. A amazona Maria Luiza Cabral, a Malu, de 17 anos, fez o estágio de "groom" (tratador) com a equipe do brasileiro Nelton Marcon, que tem seu centro de treinamento em um condomínio equestre a 15 minutos (de trailer) do WEF.
"O dia a dia é muito corrido por lá, mas traz uma outra visão sobre o esporte, dos bastidores do mundo hípico. Um dos maiores aprendizados foi o de valorizar o trabalho dos tratadores e caminhoneiros, me mostrou muito de um sistema diferente do que eu vivo em casa. Além disso, tive muitos aprendizados acompanhando as aulas do Marcon e do Thiago Bigorna, que também foi muito enriquecedor", contou Malu após a experiência de 30 dias na equipe Marcon.
As brasilienses Maria Luiza Cabral e Rafaela Muller viveram a experiência de WEF por outra perspectiva: um estágio de tratador por 30 dias (img.: arquivo pessoal)
Em termos técnicos da competição, Malu conta que "lá a organização adianta provas o tempo todo e os cavalos não dormem no concurso. Entravam no trailer já de sela e cabeçada, faziam a prova, ficavam um pouco na cocheira de apoio e já voltavam para casa. Além disso, acontecem muitas provas ao mesmo tempo, então para facilitar o dia de todos os competidores, depois de concluir seu primeiro concurso, os conjuntos zerados já saltam o seu desempate, sem nem sair da pista. Isso só não acontece no GP e Internacional, nas provas fortes. Outro ponto interessante é que todas as provas são ao cronômetro, desde o 60cm".
Concordando com a opinião de todos os cavaleiros que falamos, a amazona também achou a experiência extremamente rica e válida: "é de outro mundo! Vale muito a pena, seja para visitar, competir, fazer clínica ou um estágio como o que eu fiz".
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